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26 | Cidade Nova | Setembro 2022
Protagonistas | Gustavo Monteiro | revista @ cidadenova . org . br
Eles escolheram fazer a diferença

“ Sou altamente sensível , e ter descoberto isso foi libertador !”

COMPORTAMENTO Saiba como a trajetória de uma Pessoa Altamente Sensível ( PAS ) foi capaz de transformar os seus relacionamentos mais próximos e gerar uma pequena rede de apoio com o mesmo traço de personalidade
ANA LUIZA FREITAS tinha uma curiosidade antiga quanto a um livro que ela costumava ver na casa de sua melhor amiga de infância . O título sugestivo , Crianças altamente sensíveis , saltava-lhe aos olhos todas as vezes em que encontrava a amiga com o objeto nas mãos . “ Ela vivia lendo esse livro , mas a gente não conversava muito sobre ele quando era adolescente . Eu lembro que ela começou , então , a mencionar certas coisas que tinha ali e , quando a gente cresceu e ela se mudou para os Estados Unidos , essa minha amiga me deu o livro de presente ”, lembra Freitas , que tem hoje 27 anos . Foi assim o início da sua trajetória : Ana Luiza é uma Pessoa Altamente Sensível ( PAS ), e essa descoberta já se desdobrou em uma pequena rede de apoio a outras pessoas com o mesmo traço de personalidade .
“ Quando a minha filha leu alguns trechos daquele livro para mim , eu fiquei muito surpresa ! Fazia total sentido ! Aquilo me fez entendê-la e , ao mesmo tempo , entender também tantas pessoas que eu acompanhava como pacientes ”, conta a mãe , Maria do Socorro Freitas . Depois disso , ela , que também é psicóloga , passou a pesquisar mais sobre o assunto . A única publicação sobre PAS em língua portuguesa estava esgotada e os poucos livros disponíveis para a venda custavam uma fortuna em negócios de livros usados . A psicóloga chegou , inclusive , a tentar uma reimpressão , o que não teve efeitos imediatos . Mas os seus esforços não foram em vão : o resultado das pesquisas acabou difundindo-se nos locais onde trabalhou e com seus respectivos pacientes . De forma orgânica , a compreensão sobre a alta sensibilidade também se difundiu entre amigos e alguns membros do grupo “ Psicologia e Comunhão ”, do qual faz parte .
“ O mais interessante é perceber a alta sensibilidade como um modo de ser , que pode ser um pouco diferente , mas é um modo ser . Não é nem mais nem menos que os outros modos . A sensibilidade , às vezes , coloca a gente muito em cheque , porque as pessoas com essa característica precisam de vez em quando se retirar , estar sozinhas , ou têm um limite que é muito diferente do limite do resto da família . É uma questão com a qual todo mundo precisa aprender a lidar , mas sem fazer disso um drama ”, explica a psicóloga . " O caminho é encontrar um limite entre estar aberta ao próximo e se responsabilizar pelas próprias necessidades ", completa Ana Luiza .
Mas o que é , afinal , a alta sensibilidade ?
“ Quando eu mostrei para a minha mãe algumas informações sobre as PAS e vi como ela recebeu tudo aquilo , entendi que a forma como ela agiu desde então foi a maneira dela de demonstrar o amor por mim . Compreender a minha sensibilidade foi o modo dela de me amar . Ela não fez aquilo por achar interessante ! Compreender as pessoas altamente sensíveis é uma forma de amá-las ”, explica Ana Luiza .

26 | Cidade Nova | Setembro 2022