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10 | Cidade Nova | Abril 2022
Brasil | Gustavo Monteiro | revista @ cidadenova . org . br
Um país sob o olhar da fraternidade

Quantos anos cabem dentro de uma semana ?

ARTE Os 100 anos da Semana de Arte Moderna de 1922 e o panorama artístico brasileiro hoje
ERA UMA VEZ , há 100 anos , um grupo de artistas . Eles tinham sete dias e o desejo de transformar a arte brasileira em algo mais ... brasileiro ! Pretendiam romper com as formas tradicionais e acadêmicas de se fazer arte e colocar , pela primeira vez , o Brasil em pé de igualdade com os movimentos artísticos de vanguarda .
O Teatro Municipal de São Paulo serviu de palco e , entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922 , ano do centenário da Independência do Brasil , a plateia vaiou exposições de pintura e escultura , apresentações de dança , recitais de poesia , palestras e concertos . A métrica e a regra cediam lugar à espontaneidade e à improvisação . A estética formal dava lugar à tentativa de popularização da arte e à conquista da liberdade de produzir e experimentar .
A “ Semana da Arte Moderna ”, como foi chamada , é fruto de discussões de artistas , estudiosos e curiosos . Mas , afinal , o evento foi mesmo um marco para a arte brasileira ? Hoje , no centenário da Semana de 22 , quais movimentos artísticos borbulham na panela cultural do país ?
A arte , suas funções e sentidos
O rol de críticos do evento sempre foi extenso e , ao longo dos anos , contou com nomes como Monteiro Lobato e Graciliano Ramos , por exemplo . Esse último , ao ser questionado em 1948 pela Revista do Globo sobre a influência da Semana de Arte Moderna para o seu trabalho , respondeu : “ Que ideia ! Enquanto os rapazes de 22 promoviam seu movimentozinho , achava-me em Palmeira dos Índios , em pleno sertão alagoano , vendendo chita no balcão ”. Para ele , aquela turma estava mais preocupada em “ investir na colocação pronominal ” do que nos problemas sociais do país .
Sobre a obrigatoriedade de uma função social da arte , a artista plástica paulista Adriana Rocha discorda : “ Quando penso que a arte deva ter uma função concreta , tenho medo de que vire uma coisa panfletária , fruto de uma ideologia qualquer , seja política , religiosa ou civil . Corre-se o risco de fazer uma obra de arte para ilustrar uma ideologia própria , o que não exclui a existência de obras de arte políticas . Mas , antes de tudo , uma obra de arte é uma experiência estética . Através do estético você chega a outras dimensões ”.
Por outro lado , Rocha recorda que não há dúvidas de que os protagonistas do evento faziam parte da alta burguesia paulista . “ A Semana de Arte Moderna realmente não foi uma revolução popular . Porém , o grande mérito dela foi propor uma ruptura definitiva com a arte mais aliada ao conservadorismo . Como os seus expoentes tinham vivido na Europa dos anos 1920 , que era um vulcão cultural que explodia diversos movimentos artísticos de ruptura , eles trouxeram essa maneira nova de fazer arte ”, explicou ela . “ Mas eles trouxeram não somente a forma ; também propunham retratar um conteúdo nosso , brasileiro , que falasse das nossas histórias e raízes . Sob esse prisma , a Semana criou uma cisão . Depois dela , a arte brasileira nunca mais foi a mesma ”, completou a artista plástica .
Mário de Andrade , modernista e católico
Ainda que uma das propostas da Semana de 1922 fosse combater o conservadorismo na arte , o que poderia significar combater a influência da religião católica na sociedade , al-

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