Entrevista | Luís Henrique Marques | revista @ cidadenova . org . br
Por uma cultura do diálogo
Vitor Tavares
Presidente da Câmara Brasileira do Livro
“ O livro tem que estar na ordem do dia de uma
sociedade como a nossa ”
CULTURA Para o líder de entidade que atua em favor do mercado editorial , o brasileiro precisa começar a encarar o hábito da leitura como essencial para a construção da democracia
EM PLENO século 21 , há quem afirme – sem qualquer constrangimento – que não gosta de ler , partindo do pressuposto de que essa prática tem um valor relativo . Essa certamente não é a opinião do presidente da Câmara Brasileira do Livro ( CBL ), Vitor Tavares . Nessa entrevista , além da apresentar argumentos em favor do hábito de leitura , ele fala sobre o atual cenário do mercado editorial no Brasil e como esse foi afetado pela pandemia de Covid-19 .
Vitor Tavares é graduado em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo ( PUC-SP ) e atua no setor livreiro há mais de 40 anos ; começou suas atividades na Editora Vozes e , hoje , trabalha para a Editora Loyola . Já foi presidente da Associação Nacional das Livrarias e , depois de assumir a função de diretor da CBL durante mais de 10 anos , passou a presidi-la desde o ano passado . A seguir , os principais trechos da entrevista :
O que é a Câmara Brasileira do Livro ? Qual é o seu papel e como ela tem procurado dar conta dele ?
A Câmara Brasileira do Livro é uma entidade que , no seu guarda-chuva , olha todas as etapas da produção , do desenvolvimento , da divulgação do livro e até mesmo da formação do leitor . A CBL conta com mais de 500 associados , entre editores , distribuidores , livrarias . Ela é uma entidade que tem como escopo e missão a defesa do livro , da literatura , a formação de leitores ; a defesa do livro em condições de igualdade de acesso a todos os cidadãos ; a defesa da livre concorrência no mercado livreiro , mas de forma que as empresas contem com recursos para se manter e a defesa da livre expressão . Nesse último caso , estamos empenhados no combate a qualquer tipo de preconceito ; estamos sempre lutando pela diversidade literária e cidadã . A CBL realiza várias ações pela promoção do setor editorial e livreiro . Ela organiza anualmente , há mais de 63 anos , o maior prêmio literário brasileiro , que é o Prêmio Jabuti , em cuja última edição tivemos um recorde de inscrições de obras ( mais de 3500 ). Os livros premiados acabam ficando entre os mais vendidos no ano da sua premiação e nos anos seguintes . A entidade organiza também a Bienal Internacional do Livro de São Paulo ( a próxima edição vai ser em 2022 ; a de 2020 não ocorreu , em função da pandemia de Covid-19 ). Além disso , num convênio com a Apex Brasil [ Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos ], ela leva o autor brasileiro para vários países ao participar das grandes feiras literárias do mundo , como a de Frankfurt , Paris , Londres , Bolonha , Guadalajara , Buenos Aires e Bogotá . Os estandes da CBL são ponto de encontro de autores brasileiros com editores estrangeiros interessados na literatura brasileira . Esse é um trabalho de difusão da rica literatura e língua portuguesa .
O mercado livreiro parece seguir enfrentando vários problemas ao mesmo tempo e já algum tempo : a crise econômica ( e todos os seus desdobramentos ), a crise de leitura , a concorrência com a tecnologia . É isso mesmo ? Levando em conta esse contexto , o fechamento de muitas livrarias importantes aponta para uma perspectiva ainda mais difícil dessa área ?
6 | Cidade Nova | Fevereiro 2022