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14 | Cidade Nova | Novembro 2021
Sociedade | Daniel Fassa | revista @ cidadenova . org . br
Valores e desafios da convivência social

Por um Brasil que lê

CULTURA Embora ainda falte muito para sermos um país leitor , iniciativas da sociedade civil aumentam a compreensão sobre o problema e ajudam a encontrar soluções
ESCOLAS , bibliotecas públicas , associações de bairros , praças , igrejas : espaços de um “ Brasil que lê ”. Esse é o ponto de partida e o ponto de chegada de uma pesquisa realizada pelo Instituto Interdisciplinar de Leitura e pela Cátedra Unesco de Leitura , ambos da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro ( PUC-Rio ), em parceria com a JCastilho Consultoria .
Ponto de partida porque toma impulso no empenho de pessoas e instituições Brasil afora que , silenciosamente , resistem aos problemas socioeconômicos e educacionais para formar novos leitores . Ponto de chegada porque busca mapear e apresentar de modo sistemático e organizado essas boas práticas , com vistas a multiplicá-las .
“ A gente encontrou muitos projetos , pessoas que acreditam no potencial da formação leitora como um degrau para a transformação de realidades muito duras . A gente encontrou possibilidades de formação de redes , de troca de experiências , conhecimentos e saberes que são muito positivas para o nosso país ”, conta Gilda Carvalho , diretora do Instituto Interdisciplinar de Leitura e coordenadora da Cátedra Unesco de Leitura .
Financiada pelo Instituto Itaú Cultural , a pesquisa coordenada por Carvalho estava em fase final de análise quando ela concedeu entrevista à Cidade Nova . Os resultados devem começar a ser divulgados neste mês de novembro , no site : http :// obrasilquele . catedra . puc-rio . br .
“ Para além dos projetos de escolas , os projetos desenvolvidos em bibliotecas comunitárias de norte a sul , de leste a oeste do país são importantíssimos porque hoje dão sustentabilidade social a determinadas localidades ”, explica Carvalho , que é mestre em literatura e especialista em gestão do conhecimento .
Ela também destaca “ os projetos desenvolvidos com os apenados , que estão começando a provocar alguma mudança ou levam ao menos algum alento à realidade prisional , e os projetos realizados junto a populações quilombolas , ribeirinhas e indígenas , que cuidam da cultura originária dessas pessoas e preservam a memória , seu modo de ser ”. Finalmente , a pesquisadora afirma que os projetos de extensão universitária têm tido um papel relevante no incentivo à leitura no país .
Cenário
Entre 2015 e 2019 , o Brasil perdeu 4,6 milhões de leitores , segundo dados da última edição da pesquisa “ Retratos da Leitura ”, divulgada no ano passado . Realizada a cada quatro anos pelo Instituto Pró-Livro ( IPL ) com o apoio do Itaú Cultural , a pesquisa considera leitor toda pessoa que leu , inteiro ou em partes , pelo menos um livro nos últimos três meses antes de sua realização . Em termos percentuais , a queda foi de 56 % para 52 % da população .
A coleta de dados foi realizada pelo Ibope Inteligência entre outubro de 2019 e janeiro de 2020 , antes , portanto , do início pandemia , o que indica que seus resultados não refletem os impactos da emergência sanitária sobre leitura no país . Ainda de acordo com a pesquisa , o brasileiro lê , em média , cinco livros por ano .
“ É um índice considerado baixo na comparação com outros países , reflexo das grandes desigualdades socioeconômicas , culturais e educacionais presentes em nosso país ”, analisa Neide Almeida , secretária executiva da Rede Temática Leitura e Escrita de Qualidade para Todos ( Rede LEQT ).
Em rede
Criada em 2012 e abrigada junto ao Grupo de Institutos , Fundações e Empresas ( GIFE ), a Rede LEQT reúne mais de 80 integrantes , entre organizações sociais , institutos , fundações , in-

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