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32 | Cidade Nova | Agosto 2021
Tecnologia | Cibele Lana | revista @ cidadenova . org . br
Inteligência a serviço da humanidade

O RH se desumanizou ?

TRABALHO A área de Recursos Humanos enfrenta o dilema da agilidade e da diversidade propiciadas pelas plataformas de inteligência artificial e os desafios de manter o processo de recrutamento e seleção ainda humanizados
ASSIM como aconteceu com outras áreas , a pandemia também intensificou a digitalização da área de Recursos Humanos ( RH ) dentro das empresas . De uma hora para a outra , os processos de admissão , demissão , recrutamento e seleção passaram para o ambiente on-line , e a área também se viu responsável por auxiliar os colaboradores na transição para o trabalho remoto , por inovar em pacotes de benefícios para o “ novo normal ”, dentre outras ações bastante estratégicas para as organizações .
Tal cenário alavancou também os negócios de empresas que vendem tecnologias de inteligência artificial para processos de recrutamento e seleção com a promessa de tirar do encargo dos profissionais de RH as tarefas mais operacionais . As ferramentas funcionam a partir de aprendizado de máquina ( machine learning , em inglês ) e , a partir de dados imputados no sistema , como questionários aplicados com todos os colaboradores , são propensas a triar e selecionar currículos de pessoas com o mesmo perfil ou mais “ parecidas ” com a cultura da empresa .
É o caso da Gupy , uma das líderes de mercado nesse segmento . A empresa possui mais de 60 mil vagas publicadas todos os meses , mais de 20 milhões de usuários registrados na plataforma e cerca de 5 milhões de candidaturas a vagas mensalmente . “ Nossa inteligência artificial ajuda a contratar a pessoa certa de forma ágil para que o RH seja mais estratégico . Graças a todas estas soluções , ajudamos a economizar em média 50 % no tempo de fechamento de vagas , 80 % no esforço operacional do RH e 30 % na rotatividade de pessoal ”, diz Guilherme Dias , cofundador da Gupy .
No entanto , apesar da inovação , o mercado de RH , pelo que parece , anda bem dividido sobre os reais benefícios de utilizar inteligência artificial em processos de contratação de pessoas . Líder de RH em uma grande empresa do setor alimentício , Marcos Ono decidiu estudar o assunto em sua dissertação de mestrado pela Fundação Getúlio Vargas . “ Todos os headhunters ( profissionais que buscam candidatos qualificados no mercado ) com os quais conversei falam que esse vai ser o maior fator de transformação nessa área nos próximos anos . As empresas muito grandes utilizam mais tecnologia , assim como a tecnologia tem um peso maior para cargos de entrada . No entanto , no caso de recrutamento de executivos o uso cai , pois aqui no Brasil o critério mais forte é o cultural , dos valores etc .”
Camila Machado é gerente geral de gente em uma grande empresa e atua com RH há 21 anos . A profissional diz acreditar que para algumas organizações muito grandes e com muitos ciclos de contratação e após muitos dados inseridos nas plataformas , elas possam ser mais assertivas , mas questiona de forma contundente a “ velocidade ” dos processos vendida pelas plataformas . “ Na minha experiência , quanto mais rápido fazemos o processo , mas rápido é o insucesso . O custo da cadeira vazia é alto , mas no fim percebo que quando fazemos o processo muito rápido , a gente erra , porque faz parte do conhecimento da empresa e do candidato um tempo para que conversem , explorem etc .”

32 | Cidade Nova | Agosto 2021