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16 | Cidade Nova | Dezembro 2020
Sociedade | Daniel Fassa | revista @ cidadenova . org . br
Valores e desafios da convivência social

Vacinação : a ciência pelo bem comum

SAÚDE PÚBLICA Com a pandemia de coronavírus arrefecida mas persistente , cresce a expectativa pela imunização ; mas a eficácia depende da adesão de todos
PERDA de entes queridos , quarentena , trabalho remoto , problemas financeiros , desemprego , rotinas estressantes , incertezas : de um modo ou de outro , a pandemia do novo coronavírus mudou radicalmente a vida de todos e trouxe com ela a expectativa por dias melhores .
As medidas restritivas adotadas em todas as latitudes foram o amargo e necessário remédio para desacelerar o avanço da doença e evitar um número ainda maior de mortes – que já superavam 1,3 milhão em todo o mundo e 164 mil no Brasil até o fechamento desta edição .
Mas o surgimento de uma segunda onda de contaminações na Europa e o aumento da ocupação de leitos de UTIs em diversas cidades brasileiras evidenciam que somente a vacinação em massa proporcionará uma solução definitiva para o problema , descontadas as possíveis mutações virais .
Laboratórios de diversos países têm corrido contra o tempo em busca de uma vacina segura e eficaz . Segundo boletim periódico da Organização Mundial da Saúde , no dia 12 de novembro – data em que Cidade Nova teve acesso ao documento –, havia 212 vacinas em desenvolvimento em todo o mundo , das quais 48 em testes clínicos . Dessas últimas , 12 se encontravam na fase 3 , quando sua eficácia é verificada por meio da aplicação em amostras de milhares de pessoas .
Uma vez que as vacinas tenham sido finalmente aprovadas , começará a distribuição das doses , que inicialmente deverão ser suficientes para atender apenas aos grupos de risco , segundo especialistas ouvidos por Cidade Nova . Posteriormente , a cobertura deverá ser aumentada , até que se alcance uma imunização populacional que viabilize o fim do distanciamento social .
Todos devem ser vacinados ?
Estudo publicado em julho por Sarah M . Bartsch e um grupo de cientistas no American Journal of Preventive Medicine evidenciou que a proporção da população a ser vacinada depende da eficácia da vacina utilizada . Num cenário em que a pandemia estivesse apenas começando , uma vacina com 70 % de eficácia demandaria a imunização de 75 % da população . Se apenas 60 % das pessoas recebessem o imunizante , a eficácia deveria ser superior a 80 %. Esses números pressupõem que cada sujeito doente infecte em média 2,5 outras pessoas .
À base dessas projeções está a ideia de que se deve reduzir ao máximo a probabilidade de que o vírus “ encontre ” novas pessoas para infectar . Por isso , a decisão quanto à obrigatoriedade da vacinação , embora se dê na esfera política , deve ter fundamentos estritamente científicos .
“ Se a ciência demonstrar que a vacinação obrigatória é capaz de realizar um efetivo bloqueio da pandemia , colocar que ela deva ser obrigatória será natural , porque esse interesse da saúde coletiva está acima de um debate negativamente politizado sobre as liberdades individuais . Um debate falso na verdade , porque não há liberdade sem vida ”, afirma Eno Dias de Castro Filho , doutor em epidemiologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul .
Notícias falsas
Aqui mais uma vez o tema das notícias falsas vem à tona . Segundo um levantamento publi-

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