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Você Sugere | Luís Henrique Marques | [email protected] Quem dá a dica da matéria é o leitor Em briga de marido e mulher... se mete a colher sim! VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Dados divulgados pelo Ministério da Mulher atestam um aumento significativo de agressões contra mulheres desde o início do isolamento social, situação sobre a qual a sociedade não pode permanecer indiferente MAL TEVE INÍCIO o período de confinamento forçado das famílias, em função da pandemia da Covid-19, veículos de imprensa divulgaram dados preocupantes sobre o aumento da violência doméstica, sobretudo contra as mulheres. Segundo o site da Universa, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos chegou a registrar um aumento de 17% nas denúncias feitas ao 180, número do governo federal que presta atendimento às mulheres vítimas da violência doméstica. Somente na última semana de março, foram 829 o total das denúncias. Felizmente, a despeito desse quadro, há pessoas que têm tomado outra atitude, contrariando o velho adágio popular segundo o qual “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”. O mesmo site da Universa divulgou uma iniciativa inusitada: no elevador de um condomínio, uma moradora fixou um bilhete dirigido ao “vizinho agressor”: “Com pandemia ou não, violência contra a mulher é crime!! Você não vai se esconder atrás da Covid-19! Estamos de olho e chamaremos a polícia!”. Não bastasse o alerta, a moradora se dirigiu à possível vítima: “Querida vizinha, se precisar de ajuda, corra para cá: APT 602. Você não está sozinha!! Pode gritar, pode pedir socorro, a gente abre a porta pra você!”. Essa é justamente a postura defendida pela juíza Liliana Regina Araújo, da Vara de Boituva (SP), especializada no tema da violência doméstica. Segundo ela, nesses casos, a vítima 30 | Cidade Nova | Maio 2020 encontra-se sozinha, se sente inibida pela eventual dependência econômica do parceiro ou por conta dos filhos e, exatamente por se sentir isolada, precisa de ajuda. “É difícil para a mulher admitir que se permitiu estar num tipo de relacionamento abusivo e violento”, completa. De acordo com a juíza, o problema é grave, potencializado com o estado de confinamento, uma vez que, só no ano passado, mais de 4 mil mulheres foram assassinadas por seus companheiros. Liliana Araújo argumenta que a ajuda de terceiros e a publicidade dos casos tendem a intimidar o agressor. Além disso, ela explica que, tendo chegado ao caso de agressão física, se possível, a mulher deve se afastar do parceiro (esse também pode ser um familiar), buscar um lugar seguro e, quando necessário, acionar a polícia e o sistema judiciário. “Em tempos de confinamento, poder contar com uma rede de apoio familiar para ter onde ficar seria o ideal”, diz a juíza, para quem não existe receita pronta para esses casos. Somado a isso, Araújo lamenta o fato de o Brasil não contar com uma estrutura para acolher essas vítimas nem para encarcerar agressores sem que isso crie um colapso no já complicado sistema prisional brasileiro. CULTURA MACHISTA E PATRIARCAL O que explica a violência doméstica é a cultura machista e patriarcal, argumenta a juíza Liliana Araújo. Ela afirma que a postura de submissão das mulheres alimentada por