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Psicologia | [email protected] Saúde emocial Como gerir o pânico do Coronavírus? Por Angela Mammana ORIENTAÇÕES Publicado originalmente no site da revista Città Nuova no dia 29 de fevereiro deste ano, o artigo a seguir não só corresponde à proposta desta seção, como se mostra relevante e atual para o público brasileiro COMO TODAS AS EMOÇÕES, o medo tem uma função adaptativa: nos ajuda a estar no mundo e A autora é a sobreviver diante de possíveis perigos. O medo psicóloga e funciona bem diante de situações emergenciais, coach humanista, mas, se se tornar excessivo em comparação com os docente de riscos objetivos, pode se transformar em pânico e, Psicologia assim, acabar nos prejudicando. Diante da recente Geral junto disseminação do vírus Covid-19, o Conselho Nacio- à Faculdade nal da Ordem dos Psicólogos da Itália publicou um de Medicina documento com o objetivo de ajudar a evitar que e Cirurgia da o medo seja desproporcional e crie formas de an- Universidade siedade individual e de pânico coletivo. de Roma Apresento alguns pontos do documento para “Tor Vergata”. refletir sobre dinâmicas que nos envolvem, seja É também do ponto de vista subjetivo, seja do ponto de vista membro da social. comissão • Ater-se aos fatos, isto é, ao perigo objetivo. internacional do O Coronavírus é um vírus contagioso, mas como grupo Psicologia sublinhou uma fonte da Organização Mundial da e Comunhão. Saúde (OMS), de 100 pessoas que ficam doentes, 80 se recuperam espontaneamente, 15 têm pro- blemas administrados no ambiente sanitário, so- mente 5 têm problemas mais graves e, entre esses, as mortes são cerca da metade, acontecendo, em geral, com sujeitos portadores de outras impor- tantes patologias. • Não confundir uma causa única com um dano colateral. Muitas mortes não são causadas somente pela ação do Coronavírus, assim como aconteceu e acontece com outros tipos de gripe que provocam mais mortes. Até agora, os faleci- mentos ligados ao Coronavírus são estimados no mundo como cem vezes inferiores àqueles que se Versão editada estima causados a cada ano por influência da gri- em português: pe comum. Luís Henrique • Se o pânico se torna coletivo, muitos indiví- Marques duos se sentem ansiosos, desejam agir e fazer al- guma coisa para diminuir a ansiedade, e isso pode gerar estresse, comportamentos irracionais e pou- co produtivos. • Ser pego pela “infecção coletiva de pânico” nos leva a ignorar os dados objetivos e nosso jul- gamento pode enfraquecer. • Desejando fazer qualquer coisa, muitas ve- zes, acabamos fazendo coisas erradas e ignorando ações simples e de proteção, aparentemente ba- nais, mas muito eficazes, que estão no site da OMS. • A indignação pública costuma acentuar al- guns medos. Estamos preocupados com a nossa vulnerabilidade e a dos nossos entes e buscamos nos tornar invulneráveis. Mas a busca obsessiva pela invulnerabilidade é contraproducente, por- que nos faz excessivamente medrosos, incapazes de enfrentar o futuro, uma vez que nos tornamos muito fechados em nós mesmos. A TV e as redes sociais nos submergem em uma maré de informações de todo tipo sobre o Coronavírus: verdadeiros especialistas, especialis- tas improvisados, pessoas que relatam ter ouvido ou ter lido algo. Deve ser bloqueado ou ignorado o estado de “alarme psicológico permanente” que alimenta a percepção dos riscos e, assim, o impul- so em buscar obsessivamente informações mais tranquilizadoras. Encontrar a justa medida entre subestimar e superestimar o risco é buscar uma forma equilibrada de enfrentar o cotidiano. Concluindo, me parece que emergem três as- pectos que podem nos ajudar: pensamentos fun- damentados em dados objetivos e fontes confiá- veis, comportamentos responsáveis e saudáveis e a busca de uma “segurança interna”, que controle o medo e que dê um pouco de tranquilidade. Abril 2020 | Cidade Nova | 41