Entrevista | Emanuel Bomfim | [email protected]
Por uma cultura do diálogo
Silvia Grecco
Mãe do Nickollas e torcedora do Palmeiras
“A pessoa com deficiência
precisa ser amada, respeitada
e incluída”
INCLUSÃO Vencedora de prêmio “torcedor do ano”, da Fifa, a palmeirense
Silvia Grecco narra no estádio jogos para o filho, que é autista e possui
deficiência visual
A ASSISTENTE SOCIAL Silvia Grecco nunca imaginou que um dia fosse precisar de um assessor de imprensa.
Achava até meio descabido. “Juro que não sou celebridade”, se desculpa para a reportagem de Cidade Nova
antes do início da entrevista. “Nunca pensei que um assessor pudesse ser tão essencial na vida de uma pessoa.”
Silvia até pode não se considerar uma personalidade, dessas de televisão ou da internet, mas tem tido uma
agenda equiparável a de um artista ou figura pública. O motivo, por sinal, é dos mais nobres: contar sua
história com seu filho Nickollas. Eles foram descobertos pelo repórter da TV Globo Marco Aurélio Souza,
durante um clássico entre Palmeiras e Corinthians. Estavam na arquibancada e Silvia narrava os lances da
partida para o Nickollas, que possui deficiência visual e é autista. A partir de então, aquele gesto de amor de
uma mãe para com um filho ganhou notoriedade mundial, a ponto de eles receberem um prêmio dentro do
The Best, concedido pela Fifa aos melhores do ano. “Ele nos viu com os olhos e nos enxergou com o coração”,
declarou Silvia em discurso para a plateia recheada de craques da bola durante a entrega do prêmio, em
Milão, na Itália. Silvia não alimentava o desejo de propagar sua voz, mas, a partir da projeção do prêmio, quer
aproveitar esse palanque para falar sobre a invisibilidade da pessoa com deficiência. Quer, também, como
você poderá ler na entrevista a seguir, falar sobre a doação de uma mãe que supera obstáculos aparentemente
impossíveis. Tudo a partir do amor e, claro, do futebol.
O que você tem conseguido colher a partir des-
sa grande exposição com o prêmio?
Fiquei muito feliz com o prêmio físico, lógi-
co. Foi uma grande emoção na minha vida, que
vai estar na minha memória afetiva eternamen-
te. Mas entendi o quanto nós éramos invisíveis,
porque são sete anos de estádio, muitas vezes sen-
tados no mesmo lugar. Nem as pessoas ao nosso
redor nos viam. Quando tudo isso acontece, co-
meço a me perguntar por que era desse jeito. Para
mim, é uma coisa corriqueira, nunca tivemos vai-
dade, nunca fizemos isso para mostrar para nin-
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Cidade Nova | Novembro 2019
guém, é uma coisa íntima, minha e de meu filho.
Uma história de amor, de cumplicidade. Mas pen-
sei: “Está na hora de mostrar para as pessoas que
a pessoa com deficiência existe mesmo e que ela
precisa ser amada, respeitada, incluída”. E já que
nos deram voz, tento passar essa mensagem para
todo mundo.
E como o Nickollas tem absorvido todo este
momento, com toda essa visibilidade?
Até por conta da própria deficiência, do au-
tismo, ele não tem a dimensão da grandiosidade