Igreja | Luís Henrique Marques | [email protected]
Anúncio, vida pastoral e testemunho
NO MÊS DE MAIO, liturgica
mente dedicado à Nossa Se
nhora, são muitas as manifes
tações de carinho e devoção
dos fiéis católicos à mãe de
Deus no Brasil e no mundo.
São expressões comoventes de
um amor filial que ratificam,
na experiência de fé das pes
soas, o lugar especial de Maria
na história da Salvação. His
tória que é a de todos nós que
assumimos nossa fé em Cristo
como caminho de redenção
da humanidade. Naturalmen
te, é preciso não perder a pers
pectiva de que o objeto de fé
do cristão é sempre Jesus, para
quem Maria dedicou sua exis
tência nesta Terra.
Para além da perspectiva
devocional, é importante evi
denciar Maria como modelo
de leiga por sua contribuição
ativa na construção da Igreja.
Nesse sentido, retomo a refle
xão da edição passada, em que
fiz uma crítica ao clericalis
mo, ainda bastante presente
na Igreja, na medida em que
coloca o clero somente como
centro de poder, quando a
esse cabe uma postura de ser
viço à comunidade. O exem
plo de serviço de Maria, pelo
contrário, é o da humildade,
porque ela se esva
zia de si
mesma para por em evidên
cia Cristo e Sua Igreja. O reco
nhecimento dessa sua postu
ra vemos hoje, por exemplo,
na forma como a Igreja cele-
bra seu nome.
Essa perspectiva sobre Ma
ria corresponde ao que a pró
pria Igreja destaca como sendo
seu perfil mariano. É na rela
ção de unidade com o perfil
petrino (representando pelo
papa, pelo colégio episcopal e
todo clero) que a Igreja realiza
concretamente sua missão de
herdeira de Cristo. No perfil
mariano, encontram-se todos
os leigos e leigas cujo trabalho
pastoral, muitas vezes inspi
rado em carismas específicos,
garantem a riqueza da vida na
Igreja. De fato, sem a ação e
testemunho evangélico das lei
gas e leigos no âmbito eclesial,
mas, sobretudo, na sociedade
como um todo, não haveria fu
turo para a própria Igreja.
E, aqui, cabe um olhar aten
to àquilo que a experiên
cia
de Maria ensina, assim como
consta nos Evangelhos. Ela é
uma “trabalhadora” e, como
tal, arregaça as mangas e serve
incansavelmente e com sensi
bilidade. Foi assim, por exem
plo, com a sua prima Isabel, a
quem se dispôs ajudar durante
a gravidez de João Batista, e
com o próprio Jesus e seus dis
cípulos, especialmente ao lon
go de sua vida pública.
Além disso, como diria o
papa Francisco, “Maria não
ocupa espaços, mas realiza pro
cessos” na medida em que não
se impõe em busca de garantir
-se na posição de domínio. Ela
interfere de forma discreta,
mas decisiva, no processo de
Maria para além da devoção:
modelo de leiga
construção da Igreja e do Reino
de Deus. “Fazei tudo o que Ele
vos disser” (Jo 2,5), disse a mãe
de Jesus nas bodas de Canaã.
Na condição de leiga, Maria
se realiza plenamente, porque
cumpre um projeto que é de
Deus para a sua vida, o que in
clui construir a Igreja de Cristo
da qual também se torna mãe.
Um ato de grande fé, não há
dúvida. Mas também um ato
de alguém que tem entendi
mento para além dos tradicio
nais horizontes humanos. De
fato, nada é tão perfeito que
supere o projeto de Deus para
a vida de uma pessoa. Maria
soube assumir esse projeto
ple
namente, razão pela qual
tornou-se modelo de leiga per
feitamente realizada.
Maio 2019 | Cidade Nova |
35