Protagonistas | Gustavo Monteiro | [email protected]
Eles escolheram fazer a diferença
Prato cheio de atenção
CASA VINCULAR Projeto de Recife restaura vidas e sonhos
através de um restaurante popular voltado a pessoas
em situação de rua
MARIA DE FÁTIMA e Ronaldo costumavam
trocar olhares enquanto almoçavam em um
restaurante de Recife. Com o passar dos dias,
entre um prato e outro, os dois começaram um
namoro que já dura nove meses. Ele não tem
casa, está em situação de rua. Ela também.
Embora as histórias de amor entre pessoas
em situação de rua não virem roteiro de cinema
ou propaganda de TV, foram os sorrisos apaixo-
nados dos dois que apareceram nas redes sociais
do Projeto Vincular, em comemoração ao dia
dos namorados. O restaurante em que eles se
conheceram tem como principal objetivo criar
relações, vínculos profundos, entre quem pre-
cisa e quem pode ajudar. E, nesse caso, quem
precisa de quem não é assim tão óbvio.
RESTAURANTE-CASA
OU CASA-RESTAURANTE?
Há mais de uma década Gabriel Marquim, jorna-
lista de 31 anos, adquiriu o hábito de sair pelas
ruas de Recife ao encontro de quem mais precisa.
O intuito era corresponder a um desejo de colo-
car em prática aquilo com que sonhava: “Desde
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Cidade Nova | Julho 2018
2007, eu e mais alguns amigos procurávamos vi-
ver o Evangelho, numa experiência profunda de
Deus. Ao mesmo tempo, percebíamos que esse
amor a Deus deveria se manifestar no amor às
pessoas, especialmente entre os mais pobres”.
Em 2012, Gabriel voltava de uma cami-
nhada noturna. A madrugada, de fato, é o seu
horário preferido para conversar com Deus.
Chegando em casa, presenciou um aconteci-
mento que, mais tarde, mudaria os rumos da
Comunidade dos Viventes, fundada por ele e
os seus amigos.
Ao ver um homem tentar pular o muro, Ga-
briel pediu que não fizesse aquilo. O homem,
arrependido, disse que entraria só para roubar
algo para comer, pois estava com fome. “Fui lá
dentro, peguei alguma coisa e lhe dei. Ele se
foi. Porém, aquela cena não saiu mais da mi-
nha cabeça. Sentia como se Deus dissesse: ‘Será
que eu precisarei invadir a sua casa para ter es-
paço nela’? Aquilo ficou martelando em mim
durante um bom tempo”, relembrou.
A inquietação foi compartilhada com os de-
mais membros da comunidade, que sentiram