palavra de vida
letizia magri
Meditações sobre o Evangelho
‘Eis aqui a serva do Senhor!
Faça-se em mim segundo a tua palavra.’
N
a Palestina, em uma periferia desconhecida do
poderoso Império Romano, uma jovem mulher
recebe em casa uma visita inesperada e exta-
siante: um mensageiro de Deus, que lhe traz um
convite e espera dela uma resposta.
“Alegra-te!”, lhe diz o Anjo, com a sua saudação; de-
pois lhe revela o amor gratuito que Ela encontrou aos
olhos de Deus e lhe pede que colabore na realização do
Seu desígnio para a humanidade.
Maria acolhe, perplexa e com alegria, o dom desse
encontro pessoal com o Senhor e, por sua vez, se doa in-
teiramente a esse projeto ainda desconhecido, pois Ela
confia plenamente no amor de Deus.
Com o seu “Eis-me aqui!” generoso e total, Maria se
coloca decididamente a serviço Dele e dos outros. Com
seu exemplo Ela mostra um modo luminoso de aderir à
vontade de Deus.
Meditando essa frase do Evangelho, Chiara Lubich es-
creveu: “Para realizar seus planos, Deus precisa unicamente
de pessoas que se entreguem a Ele com toda a humildade
e a disponibilidade de uma serva. Maria – autêntica repre-
sentante da humanidade, cujo destino é por ela assumido –
com sua atitude abre completamente o caminho para a
atividade criadora de Deus. Mas o termo ‘servo do Senhor’
não era só uma expressão que indicava humildade; era
também o título de nobreza atribuído aos que prestavam
grandes serviços à história da salvação, como Abraão,
Moisés, Davi e os profetas. Assim, utilizando essa mesma
expressão, Maria afirma também toda a própria grandeza”. 1
Também nós podemos descobrir a presença de Deus
em nossa vida e escutar aquela “palavra” que Ele dirige a
nós, para convidar-nos a realizar na história, aqui e agora,
a nossa pequena parte do seu grande desígnio de amor. É
verdade que a nossa fragilidade, somada a uma impressão
de não sermos adequados, pode nos paralisar. Então, lem-
bremos da palavra do Anjo: “Para Deus nada é impossível” 2
e confiemos no Seu poder, mais do que nas nossas forças.
É uma experiência que nos liberta dos condi
cio
namentos, mas também da presunção de sermos autos
suficientes; ela faz despontar as nossas melhores energias
e muitos recursos que nem imaginávamos possuir, e nos
torna finalmente capazes de amar.
Um casal nos conta: “Desde o início do nosso casamento,
acolhemos em nossa casa os familiares de crianças interna-
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Cidade Nova • Dezembro 2017 • nº 12
(Lc 1,38)
das nos hospitais da nossa cidade. Mais de cem famílias pas-
saram pela nossa casa, e procuramos sempre ter, com cada
uma, um verdadeiro clima de família. Muitas vezes a Provi-
dência nos ajudou a manter essa acolhida inclusive do pon-
to de vista econômico, mas primeiro tínhamos de demons-
trar a nossa disponibilidade. Recentemente recebemos uma
certa quantia em dinheiro, e pensamos em reservá-la, na
certeza de que alguém precisaria dela. De fato: pouco de-
pois chegou outra solicitação. É tudo um jogo de amor com
Deus. Nós devemos somente ser dóceis e aceitar o desafio”.
Uma coisa que pode nos ajudar a viver essa frase do
Evangelho é a sugestão de Chiara, de acolher a Palavra de
Deus da mesma maneira de Maria: “[…] com toda a disponi-
bilidade, sabendo que não é de origem humana. Sendo Pa-
lavra de Deus, contém em si uma presença de Cristo. Rece-
ba, então, Cristo em você, na Palavra Dele. E com ativíssima
prontidão coloque-a em prática, momento por momento.
Se você agir dessa forma, o mundo verá novamente Cristo
passar pelas ruas de nossas cidades modernas, Cristo em
você, sem nenhum distintivo, trabalhando nos escritórios,
nas escolas, nos mais variados ambientes, junto a todos”. 3
Neste período de preparação para o Natal, procure-
mos também nós, imitando Maria, um pouco de tempo
para nos determos “a quatro olhos” com o Senhor, lendo,
quem sabe, uma página do Evangelho.
Procuremos reconhecer a sua voz na nossa consciên-
cia, que assim será iluminada pela Palavra e ficará sensível
diante das necessidades dos irmãos que encontrarmos.
Perguntemo-nos: de que modo posso ser uma pre-
sença de Jesus hoje, para contribuir, lá onde estou, a fazer
da convivência humana uma família?
Diante da nossa resposta “Eis-me aqui!”, Deus poderá
semear paz ao nosso redor e fazer aumentar a alegria no
nosso coração.
A autora é especialista em matrimônio e família na Pontifícia Univer-
sidade Lateranense de Roma. Desde março de 2017, escreve a Palavra
de Vida como representante de um grupo de membros do Movimento
dos Focolares de diferentes idades, culturas e profissões, entre os
quais especialistas em exegese bíblica, ecumenismo e comunicação
1 Cf. Chiara Lubich, Servir é transformar, Revista Cidade Nova, de-
zembro de 1981
2 Cf. Lc 1,37
3 Cf. Chiara Lubich, Servir é transformar, Revista Cidade Nova, de-
zembro de 1981