PALAVRA DE VIDA
LETIZIA MAGRI
Meditações sobre o Evangelho
“O maior dentre vós deve ser
aquele que vos serve.”
(Mt 23,11)
A
o dirigir-se à multidão que o seguia, Jesus anun-
ciava a novidade do estilo de vida daqueles que
querem ser seus discípulos, um estilo “contracor-
rente” diante da mentalidade mais difundida. 1
Naquele tempo, como também hoje, era fácil fazer
discursos moralistas e depois não viver coerentemente,
mas, em vez disso, procurar para si posições de prestí-
gio no contexto social, maneiras de ficar em relevo e de
servir-se de outros para obter vantagens pessoais.
Mas aos seus discípulos Jesus pede uma lógica total-
mente diferente nas relações com outros, aquela que Ele
mesmo viveu:
“O maior dentre vós deve ser aquele que vos serve”.
Em um encontro com pessoas desejosas de descobrir
como se vive o Evangelho, Chiara Lubich partilhou deste
modo a sua experiência espiritual:
“Deve-se sempre fixar o olhar no único Pai de muitos
filhos. Depois, olhar para todas as criaturas como filhas
de um único Pai. […] Jesus, nosso modelo, ensinou-nos
apenas duas coisas que são uma: a sermos filhos de um
só Pai e a sermos irmãos uns dos outros. […] Portanto,
Deus nos chamava à fraternidade universal”. 2
É essa a novidade: amar a todos como fez Jesus, por-
que todos – como eu, como você, como qualquer pes-
soa na terra – são filhos de Deus, amados e esperados
desde sempre por Ele.
Desse modo descobrimos que o irmão a ser amado
concretamente, “também com os músculos”, é cada uma
daquelas pessoas que encontramos diariamente. É o pa-
pai, a sogra, o filho pequeno, o filho revoltado. É o deten-
to, o mendigo e o deficiente. É o chefe da repartição e é
a faxineira. É o companheiro de partido e é aquele que
tem ideias políticas diferentes das nossas. É quem tem a
nossa mesma fé e cultura, mas também o estrangeiro.
A atitude tipicamente cristã para amar o irmão é co-
locar-se a seu serviço:
“O maior dentre vós deve ser aquele que vos serve”.
Diz ainda Chiara: “Aspirar constantemente ao prima-
do evangélico, colocando-se o mais possível a serviço do
próximo. (…) E qual é o modo melhor de servir? Fazer-se
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Cidade Nova • Novembro 2017 • nº 11
“um” com cada pessoa que encontramos, sentindo em
nós os seus sentimentos: assumi-los como coisa nossa,
que se tornou nossa pelo amor. (…) Ou seja: não mais vi-
ver fechados em nós mesmos; procurar carregar os seus
pesos, compartilhar as suas alegrias”. 3
Toda e qualquer capacidade e qualidade positiva que
tenhamos, tudo aquilo que nos possa fazer sentir “gran-
des” é uma ocasião imperdível de serviço: a experiência
profissional, a sensibilidade artística, a cultura, como tam-
bém a capacidade de sorrir e de fazer sorrir; o tempo que
podemos oferecer para escutar a quem tem dúvidas ou
está sofrendo; as energias da juventude, como também a
força da oração, quando a força física se desvanece.
E esse amor evangélico, desinteressado, mais cedo
ou mais tarde acende no coração do irmão o mesmo
desejo de partilha, renovando os relacionamentos na fa-
mília, na paróquia, nos lugares de trabalho ou de lazer e
colocando as bases para uma nova sociedade.
Hermez, um adolescente do Oriente Médio, conta:
“Era domingo. Assim que acordei pedi a Jesus que me
iluminasse o dia todo no meu modo de amar. Percebi que
meus pais tinham ido à missa e me veio a ideia de limpar
e arrumar a casa. Procurei caprichar em todos os deta-
lhes, até mesmo com flores em cima da mesa! Depois
preparei o café da manhã, arrumando tudo. Quando vol-
taram, meus pais ficaram surpresos e muito felizes com o
que encontraram. Naquele domingo tomamos café mais
felizes do que nunca, conversando sobre muitas coisas,
e consegui contar para eles as muitas experiências que
tinha vivido durante a semana. Aquele pequeno ato de
amor tinha dado o toque para um dia maravilhoso!”.
A autora é especialista em matrimônio e família na Pontifícia Univer-
sidade Lateranense de Roma. Desde março de 2017, escreve a Palavra
de Vida como representante de um grupo de membros do Movimento
dos Focolares de diferentes idades, culturas e profissões, entre os
quais especialistas em exegese bíblica, ecumenismo e comunicação
1 Cf. Mt 23,1-12
2 Cf. C. Lubich, A unidade nos albores do Movimento dos Focolares.
Payerne (Suíça), 26 de setembro de 1982
3 Ibidem