Cidade Nova 59cced6a0cd52115774168pdf

PALAVRA DE VIDA LETIZIA MAGRI Meditações sobre o Evangelho “Haja entre vós o mesmo sentir e pensar que no Cristo Jesus.” (Fl 2,5) E stando preso, provavelmente em Éfeso, por cau- sa de sua pregação, o apóstolo Paulo escreve uma carta à comunidade cristã da cidade de Fili- pos, na Macedônia. Foi justamente ele o primei- ro a levar o Evangelho àquela cidade; e muitas pessoas creram, empenhando-se com generosidade na nova vida e testemunhando o amor cristão, inclusive quan- do Paulo teve de partir dali. Essas notícias lhe dão uma grande alegria e por isso a sua carta manifesta grande afeto pelos filipenses. Então ele os encoraja a seguir adiante, a crescer ainda mais, seja individualmente, seja enquanto comunidade, e por isso lhes recorda o seu modelo, do qual devem aprender o estilo de vida evangélico: “Haja entre vós o mesmo sentir e pensar que no Cristo Jesus.” E qual é esse “sentir e pensar”? Como é possível conhe- cer os desejos profundos de Jesus, para poder imitá-lo? Paulo o entendeu: Cristo Jesus, o Filho de Deus, esvaziou-se a si mesmo e desceu em meio a nós: se fez homem, totalmente a serviço do Pai, para dar-nos a pos- sibilidade de nos tornarmos filhos de Deus 1 . Realizou a sua missão pela sua maneira de viver du- rante toda a sua existência terrena: rebaixou-se conti­ nuamente para ir ao encontro de quem era menor, fraco, inseguro, a fim de reerguê-lo e fazer com que, enfim, se sentisse amado e salvo: o leproso, a viúva, o estrangeiro, o pecador. Para reconhecer e cultivar em nós os sentimentos de Jesus, reconheçamos antes de mais nada em nós mes- mos a presença do seu amor e o poder do seu perdão; depois, olhemos para Ele, assumindo como nosso o seu estilo de vida, que nos convida a abrir o coração, a mente 38 Cidade Nova • Outubro 2017 • nº 10 e os braços para acolher cada pessoa tal como ela é. Evi- temos todo e qualquer julgamento com relação aos ou- tros; pelo contrário, deixemo-nos enriquecer pelo que há de positivo nas pessoas que encontrarmos, mesmo se isso estiver escondido por um cúmulo de misérias e de erros e essa busca nos parecer “perda de tempo”. O sentimento mais forte de Jesus que podemos as- sumir como nosso é o amor gratuito, a vontade de nos colocarmos à disposição dos outros com os nossos pe- quenos ou grandes talentos, para construir corajosa e concretamente relacionamentos positivos em todos os nossos ambientes de vida. É saber enfrentar também as dificuldades, as incompreensões, as divergências com espírito de mansidão e com a determinação de buscar os caminhos do diálogo e da concórdia. Chiara Lubich, que por toda a vida se deixou guiar pelo Evangelho e experimentou a sua potência, es- creveu: “Imitar Jesus significa compreender que nós, cristãos, temos sentido se vivermos para os outros, se concebermos a nossa existência como um serviço aos irmãos, se basearmos a nossa vida sobre estes funda- mentos. Então teremos realizado aquilo que Jesus mais valoriza. Teremos penetrado no âmago do Evangelho. E seremos realmente felizes 2 .” A autora é especialista em matrimônio e família na Pontifícia Univer- sidade Lateranense de Roma. Desde março de 2017, escreve a Palavra de Vida como representante de um grupo de membros do Movimento dos Focolares de diferentes idades, culturas e profissões, entre os quais especialistas em exegese bíblica, ecumenismo e comunicação 1 Cf. Gl 4,6: “E a prova de que sois filhos é que Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: ‘Abba! Pai!’”. Tam- bém Jo 1,12: “A quantos, porém, acolheram a Luz verdadeira, deu-lhes poder de se tornarem filhos de Deus”. 2 Cf. C. Lubich, Viver para os outros, Revista Cidade Nova, abril de 1982.