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chave de leitura Jaqueline de Moraes Fiorelli | Erasto Fortes Mendonça [email protected] Você já tinha pensado nisso? A aula dialógica: Construindo pontes relacionais “Se não amo o mundo, se não amo a vida, se não amo os homens, não me é possível o diálogo”. (Paulo Freire) A escola, no presente contexto, tem enfrentado alguns desafios que interpelam uma reflexão ­ profunda a respeito de uma sua finalidade: a de formar cidadãos conscientes e críticos. Essa ques- tão emerge num momento em que se depara, como sa- bemos, com situações conflitantes, em que princípios de diálogo e respeito são esmagados por ações que refletem intolerância, preconceito, indisciplina, dentro e fora dela.  Paralelamente a tudo isso, têm ocorrido também dis- cussões acerca dos conteúdos a serem ensinados e da própria organização do currículo. A escola, de fato, é para- -raios de muitos dos problemas que estão ao seu redor e é inegável o papel político que assume diante deles. Como pode estar alheia ao contexto em que seus alunos e ­professores se inserem? Como ignorar que todo conhe- cimento científico produzido não é neutro e traz consigo referenciais que são sócio-político-culturais? Nesse sentido, vale uma reflexão: o que, de fato, signifi- ca ensinar e aprender? Qual é o verdadeiro sentido daquele ato que denominamos aula, em que há sujeitos que com- partilham informações, conhecimento, a sua expe­riência cultural? Foi-se o tempo em que a aula era sinônimo de construção de relações hierarquizadas de poder e hoje se constitui num espaço de diálogo, de compartilhamento de saberes, da substituição de uma relação de opressão por outra baseada no respeito e na valorização do repertório de quem ensina e quem aprende. Paulo Freire, ao discutir a dialogicidade na educação, lembra que a aula é um encontro dialógico que não pode ser reduzido ao ato de depositar ideias de um sujeito no outro e que não há ignorantes absolutos ou sábios absolu- tos, mas homens que, em comunhão, buscam saber mais. A partir disso, emerge a chamada aula dialógica que suscita outro tipo de engajamento e que não exclui as tensões inerentes ao processo ensino-aprendizagem, mas promove um engajamento quanto à construção do co- nhecimento, uma atitude de corresponsabilidade diante do que se ensina e do que se aprende. Mais do que sim- 36 Cidade Nova • Junho 2017 • nº 6 plesmente uma estratégia pedagógica, essa concepção de aula promove uma relação horizontal entre professores e alunos e uma valorização de saberes, do respeito ao outro e ao seu universo cultural. Assim, nesse processo, o aluno assume o seu protagonismo e descobre-se capaz de fazer uso do conhecimento produzido para contribuir para a construção de uma sociedade justa e fraterna.