entrevista
thiago borges
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Por uma cultura do diálogo
‘Eucaristia não é prêmio
para quem cumpriu a lei’
FRANCISCO O teólogo Jung Mo Sung sai em defesa
do papa e contesta críticas fortes feitas por 45 teólogos
à exortação apostólica Amoris Laetitia
O
papa Francisco desperta rea
ções diversas, dentro e fora
da Igreja. De um lado, an
garia a simpatia de gente
que nunca se importou com religião
e até mesmo de quem tem fortes re
servas em relação à Igreja. De outro,
enfrenta críticas duras que vêm de
“dentro de casa”. Esse foi o caso da
carta aberta assinada por 45 teólogos
indignados com a exortação apostóli
ca Amoris Laetitia, em que Francisco
põe em questão a aplicação fria de
regras milenares da Igreja católica.
Acusado de heresia, o pontífice igno
rou a manifestação pública de repú
dio. Um ano após a publicação do
documento, Cidade Nova conversou
com o teólogo Jung Mo Sung sobre
a polêmica epistolar provocada pelos
intelectuais que assinaram a crítica
teológica. Coreano de nascimento,
Sung é católico e leciona na Univer
sidade Metodista. Em um diálogo
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Cidade Nova • Abril 2017 • nº 4
franco, o professor contesta a pró
pria concepção de cristianismo por
trás da condenação a Francisco.
Os intelectuais que assinaram
a crítica teológica classifica-
ram alguns trechos de Amoris
Laetitia como “grave perigo
para a fé e a moral dos católi-
cos”. O sr. concorda?
Há duas questões. Uma é a ques
tão teológica do problema funda
mental do papel da lei na salvação.
A grande questão de quem criticou o
papa é que, segundo eles, esse docu
mento de uma certa forma afrouxa
ria a validade legal da doutrina. Você
tem uma linha que estabelece o que
é permitido e o que não é permitido e
qualquer coisa que apague ou relati
vize esse limite seria visto como algo
perigoso para a fé e para a salvação.
Portanto, não é tanto uma questão
de doutrina, mas do que é proibido
e do que é permitido. A posição do
papa tem muito a ver com a posição
de São Paulo. A lei é necessária, boa,
porque é pedagógica, mas a lei não
salva. O que salva é o amor. O papa
não tem o objetivo de dizer: “Vamos
apagar a doutrina que temos”, não é a
postura dele. A função da lei no pla
no de salvação apresentado no Novo
Testamento é pedagógica, de direção
e orientação. Mas a lei não pode ser
colocada acima das condicionantes
concretas da vida humana. Isso apa
rece claramente no Evangelho quan
do Jesus discute a lei do sábado. A lei
do sábado é a mais importante para
o povo judeu e a sua observância es
trita manteve a identidade cultural e
religiosa do povo de Israel no exílio.
Jesus começou a fazer coisas no sá
bado que a lei não permite. Ele tem
aquela famosa frase que diz que a lei
do sábado foi feita para o ser huma
no e não o ser humano para a lei. Ele