Military Review Edição Brasileira Março-Abril 2014 | Page 81

guerra cibernética de botnets) que integram o repertório de ataques cibernéticos conduzidos por países. Em consequência, os hacktivistas têm quase o mesmo poder no ciberespaço que os infames hackers chineses do Exército de Libertação Popular. Entretanto, ao contrário de países, que executam ataques cibernéticos por motivos políticos relacionados à política externa, os hacktivistas usam a internet para buscar objetivos políticos e sociais centrados na própria internet. Grupos como Anonymous e WikiLeaks se consideram combatentes em uma guerra para alcançar o objetivo de liberdade na internet. Para eles, a libertação humana começa com a liberação das informações. No livro de Julian Assange, Cypherpunks: Freedom and the Future of Internet (publicado no Brasil com o título Cypherpunks – Liberdade e o Futuro da Internet), essa perspectiva é elucidada. O título do livro é uma referência ao movimento cypherpunk que surgiu no final dos anos 80, o qual defendia o uso disseminado e a disponibilidade da criptografia para proteger e promover a liberdade humana contra a invasiva vigilância estatal. O livro é uma coletânea de discussões de partidários do slogan dos cypherpunks: “privacidade para os fracos, transparência para os poderosos”. Os debates foram realizados quando Assange, o criador do WikiLeaks, estava sob prisão domiciliar no Reino Unido, aguardando sua extradição para a Suécia, mas antes de seu pedido de asilo à Embaixada equatoriana em Londres, onde ainda reside. Os diálogos revelam como o grupo se considera envolvido em uma luta violenta contra o que ele enxerga como a “futura distopia da vigilância”, organizada por países e poderosas empresas. Afirmam que eles e seus simpatizantes tiveram conflitos com quase todos os Estados poderosos [...] Sabemos disso a partir de uma Military Review • Março-Abril 2014 perspectiva de combatente, porque tivemos de proteger nossos integrantes, nossas finanças e nossas fontes [contra eles]". Grupos como Anonymous e WikiLeaks se consideram combatentes em uma guerra para alcançar o objetivo de liberdade na internet. Para eles, a libertação humana começa com a liberação das informações. Entretanto, as discussões não se restringem a países apenas. O site Google é o tema do capítulo “Espionagem do Setor Privado”. O diálogo apresentado a seguir é um exemplo típico e instigante: Jeremie: A vigilância apoiada pelo Estado é, de fato, uma importante questão, que desafia a própria estrutura de todas as democracias e a forma como elas funcionam, mas também existe a vigilância da indústria privada e, potencialmente, a coleta em massa de dados privados. Basta considerar o Google. Se você for um usuário típico, o Google sabe com quem tem se comunicado, quem conhece, o que tem pesquisado e, possivelmente, sua orientação sexual e crenças religiosas e filosóficas. Andy: Sabe mais sobre você do que você mesmo. Jeremie: Mais do que sua mãe sabe e talvez mais do que você mesmo. O Google sabe quando você está on-line ou não. Andy: Você se lembra do que pesquisou dois anos, três dias e quatro horas atrás? Não sabe; o Google sabe. A retórica das conversas pode ser excessivamente dramática; rótulos como “juventude nazista” e “atos da Stasi” são utilizados sem cuidado. O ca