Military Review Edição Brasileira Março-Abril 2014 | Page 68

sobre liderança no exemplo pessoal. Embora admitam que esse estilo de liderança gere grande risco, as Forças israelenses acreditam que ele apresenta uma oportunidade para maior recompensa “quanto ao êxito da missão e à coesão da unidade”. O discernimento, a confiança e a adaptabilidade são os objetivos das FDI para os oficiais subalternos antes de sua “implementação”, ou seja, sua designação como comandantes de pelotão. O modelo israelense de comando em combate, segundo um psicólogo das FDI, “requer um comandante experiente, que avalie e minimize o risco e tome decisões acertadas”19. Vale observar que as FDI selecionam seus oficiais exclusivamente entre praças que cumprem o serviço militar obrigatório. Todos os futuros oficiais servem durante dois anos como graduados antes de iniciarem um curso de formação de oficiais, a fim de desenvolverem e serem avaliados quanto ao tipo de habilidade técnica, autoconfiança e discernimento necessários para se tornarem “líderes pelo exemplo”20. Pela ótica inversa, a falta de autoconfiança e de discernimento de um oficial subalterno pode, na pior das hipóteses, produzir resultados desastrosos. O comandante de um pelotão controla um enorme e destrutivo poder de combate e precisa saber quando, onde e em que circunstâncias seria justificado e lícito aplicar essa força. A investigação oficial do Exército dos EUA sobre o incidente em My Lai, no Vietnã, em março de 1968, apresentada no Relatório Peers, cita a inexperiência dos comandantes de pelotão envolvidos como um dos fatores principais no massacre de cerca de 400 não combatentes. Segundo o relatório de 1970, esses oficiais subalternos decidiram seguir em vez de questionar as ordens de seu comandante de companhia quanto ao emprego de força letal contra habitantes desarmados das aldeias — em sua maioria, mulheres, crianças e idosos. O Relatório Peers destacou o “extraordinário grau de influência” exercido pelo comandante de companhia, um oficial de carreira conhecido como um disciplinador rigoroso, sobre esses comandantes de pelotão ainda em formação. O relatório concluiu que a inexperiência contribuiu para a falta de 66 discernimento demonstrada pelos comandantes e sargentos de pelotão em My Lai21. A doutrina norte-americana sobre liderança resume a questão: “Demonstrar bom discernimento de maneira constante é fundamental para o sucesso dos comandantes, e grande parte disso advém da experiência. Um comandante adquire experiência por meio da tentativa e erro e ao observar as experiências dos outros"22. Relacionamentos. Quarto, os oficiais subalternos com experiência militar prévia são mais preparados para se identificar com os subordinados, entendê-los e cuidar deles. Embora essa pareça ser uma afirmação ousada, as pesquisas a corroboram. Samuel Stouffer, renomado psicólogo social norte-americano, chefiou uma equipe de pesquisadores durante e após a Segunda Guerra Mundial, que colheram opiniões dos militares do Exército dos EUA sobre suas experiências na guerra e na Força. Suas constatações incluem a percepção talvez previsível entre praças de que os “oficiais que haviam servido como praças anteriormente apresentavam uma probabilidade maior de compartilhar a visão dos subordinados que aqueles que não haviam tido esse tipo de experiência”23. Embora isso possa parecer algo básico, uma constatação adicional talvez não seja: “Os oficiais achavam que 'habilidades executivas' (executar ordens prontamente e pensar de modo independente) eram bem mais importantes que habilidades no campo das 're p