Military Review Edição Brasileira Março-Abril 2014 | Page 26

de riscos. O comandante e o estado-maior lidam com muitos dados conflitantes de Inteligência, e cada alternativa acarreta diferentes graus de risco. Os riscos podem referir-se a prioridades de curto prazo em relação às de longo prazo, avanços em áreas cinéticas em comparação com as não cinéticas e inúmeros outros fatores. O peso da decisão cabe, em última instância, ao comandante, mas o estado-maior também está fortemente envolvido, já este que deve fornecer-lhe sua recomendação quanto à linha de ação, incluindo um método para mitigar riscos residuais. Qualquer decisão tomada pela Unidade poderá ter consequências de vida ou morte e afetar diretamente o cumprimento da missão. Além disso, cabe notar que, no nível organizacional, as decisões de um comandante podem gerar efeitos de enorme alcance. Enquanto, no nível direto de comando, as Unidades são menores e os efeitos mais visíveis, no nível organizacional, há, geralmente, uma quantidade bem maior de fatores em jogo, e os resultados podem ser mais indiretos, mas, ao mesmo tempo, de maior consequência.7 A função de um comandante no nível organizacional é, muitas vezes, mais desafiadora por essa razão, por ser necessário levar em consideração um maior grau de complexidade, com mais efeitos prolongados. Isso muitas vezes requer uma aplicação ainda mais longa e concentrada de discernimento, experiência e criatividade que a necessária no nível direto de comando. Tudo isso aumenta a importância das decisões do comandante e do gerenciamento de risco. No ambiente “híbrido” enfrentado pelo Exército atualmente, que inclui tanto ameaças convencionais quanto insurgentes em um campo de batalha em constante mutação, essa avaliação e mitigação de riscos pode ser excepcionalmente complexa. Depois de um ataque suicida ou explosão de um dispositivo improvisado ou algum outro evento traumático, existe a tentação de analisar a situação em retrospecto e criticar o comando da Unidade, questionando por que não havia atuado de outra forma. Alguém talvez pergunte: “Não viram o desastre se aproximando?” Contudo, antes de seguir esse caminho, é preciso 24 considerar a infinidade de ameaças e demandas conflitantes presentes no momento da decisão. É preciso imaginar a posição em que se encontrava o comandante naquele momento, sem o benefício de poder olhar para trás, em um ambiente com poucas respostas inequivocamente “corretas”. Implicações e Relevância para o Exército de Hoje Tudo isso acarreta importantes implicações para o exercício da liderança no Exército da atualidade. Cabe observar, logo de início, uma técnica que não será útil para os comandantes ao lidarem com esse desafio: a aversão ao risco. A aversão ao risco envolve um desejo excessivo de evitá-lo praticamente a qualquer custo, o que pode paralisar uma Unidade ou levá-la a desperdiçar oportunidades importantes. No atual ambiente, essa situação se caracteriza, às vezes, por Unidades que passam a maior parte do tempo em bases fortificadas, entrincheiradas atrás de várias camadas de defesas, com uma interação mínima. Esse tipo de postura cede a iniciativa ao inimigo, podendo criar a impressão de que as Forças norte-americanas não estejam dispostas ou aptas a cumprir sua missão8. A aversão ao risco contribui para uma abordagem excessivamente cautelosa, que centraliza o processo decisório nos mais altos escalões de autoridade, costumando sufocar a iniciativa individual9. Curiosamente, a única vez em que o FM 5-19 tratou diretamente do tema de aversão ao risco foi em uma única e curta frase: “Não seja avesso ao risco”10. O tema de aversão ao risco merece uma discussão mais aprofundada em todos os escalões. Os comandantes no nível organizacional devem compreender que até ações para mitigar o risco do modo mais prudente e lógico podem resultar em eventuais perdas ou até em desastre. Mesmo tomando todas as medidas certas de precaução, as Forças norte-americanas enfrentarão um adversário inteligente, pensante e adaptável, e o inimigo é sempre um fator de influência. Considerando que nenhuma Unidade pode se proteger contra todas as ameaças em todo lugar, a todo momento, haverá, invariavelmente, ocasiões em que o inimigo obterá Março-Abril 2014 • Military Review